POESIA NA SALA DE AULA
Luiza Helena Oliveira da Silva
Há algumas semanas fui convidada a desenvolver uma pequena palestra sobre poesia na Escola Estadual Polivalente, em Araguaína. O público consistia em mais ou menos 80 alunos do Ensino Médio. Simpáticos, receberam animados escritores da ACALANTO (Academia de Letras de Araguaína e Norte Tocantinense) e professores universitários num evento que privilegiava a leitura de diferentes gêneros. O desafio então se impôs. O que dizer da poesia a jovens a princípio tão desencantados com a leitura?
Como professora que supervisiona acadêmicos estagiários, os relatos que me chegam não são muito animadores: os alunos quase sempre demonstram desinteresse, cansados da rotina escolar, do uso de textos para o ensino de metalinguagem gramatical, das fichas de avaliação dos textos, das perguntas e respostas que se sucedem a cada leitura. Longe das salas de aula de Ensino Médio, a imagem que tenho do ambiente escolar me é trazida pelos relatos dos acadêmicos, assustados com o desafio de se iniciarem na carreira docente. A expectativa de desinteresse não encontrou, contudo, correspondência na nossa atividade. Muito pelo contrário, a participação foi muito boa, madura, e as respostas e análises correspondentes aos poemas surpreenderam pela sensibilidade e pertinência.
Diante do pouco tempo previsto para as oficinas, selecionei três poemas: Nova Poética, de Manuel Bandeira; Ah!, de Cacaso; Se eu fosse um padre, de Mário Quintana. Como falar de poesia longe do poema? Que informação pode suplantar o contato com o próprio texto poético, na singularidade de seu modo de expressão?
Não sendo professora de literatura, senti-me à vontade para deixar de lado os teóricos e pensar com aqueles jovens – e a partir do que enunciam os três poetas – sobre questões que devem ocupar séculos de reflexão, bem longe de qualquer possibilidade de consenso: O que é poesia? Qual a função da poesia? Qual a relação da poesia com a vida humana?
Disse-lhes inicialmente que a poesia acompanha o ser humano ao longo de séculos de história, não sendo, pois, privilégio de nosso tempo. Que os modos de expressão variam historicamente e que a poesia não morreu com a Internet, como apregoavam algumas previsões catastróficas sobre a leitura em tempos de tecnologia da comunicação. Longe das expectativas apocalípticas, multiplicam-se os blogs, proporcionando o aparecimento de muitas produções de qualidade, as quais eventualmente podem ganhar edições impressas, como vem ocorrendo.
Sem poder dedicar neste espaço análises sobre os poemas que discutimos na oficina, aponto apenas para um dos aspectos que consideramos quanto às temáticas trazidas pelo texto de Quintana. Segundo o eu-lírico, se este fosse padre, não pregaria sermões nas missas. Levaria poesia aos fiéis: “Se eu fosse um padre, / eu, nos meus sermões, /não falaria em Deus nem no Pecado / muito menos no Anjo Rebelado / e os encantos das suas seduções, / não citaria santos e profetas: / nada das suas celestiais promessas / ou das suas terríveis maldições… / Se eu fosse um padre eu citaria os poetas”. A partir dessas considerações, o texto apresenta a justificativa para tal procedimento: “a poesia purifica a alma”, concluindo – “um belo poema sempre leva a Deus”.
Crônica publicada no Jornal O Norte, de Araguaína, em 2007.
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